Desenhando a Hipocrisia
No Brasil, a questão rendeu até entrevista do Reverendo Augustus Nicodemus no Bom Dia Brasil de quarta-feira (08/02/2006).
A primeira vista, uma certa indignação por parte dos muçulmanos é até que compreensível, pois, de acordo com suas leis/crenças, desenhar/caracterizar/pintar Muhammad não é permitido. Mas quando a indignação vira revolta e a revolta se transforma em ódio e o ódio passa a gerar violência, a situação já passou, e muito, dos limites. Parece aquela pessoa que só sabe discutir gritando, e por isso perde qualquer razão que tem. Infelizmente muitos são intimidados por pessoas/atitudes assim e acabam pedindo desculpas para não suscitar a ira do nervosinho. De forma semelhante, vários países e líderes tem se curvado e apoiado a indignação islâmica ignorando os mais básicos preceitos de liberdade de expressão.
Talvez essa revolta dos muçulmanos merecesse mais credibilidade se não fosse tão recheada de hipocrisia. Os muçulmanos não cansam de provocar, insultar e até xingar seus inimigos em charges MUITO, MUITO, piores do que os de autoria dos dinamarqueses (aliás, não tem nada de cunho muito provocativo ou insultante nos desenhos dinamarqueses). Honestamente, os desenhos muçulmanos são até nojentos de tão explícitos (mostrando sangue pra todo lado e com óbvios sentimentos de ódio por trás das charges). O jornalista Daniel Pipes, especializado em cobrir o Oriente Médio e as relações entre Israel e seus vizinhos Árabes, acertou ao questionar no seu artigo (minha principal fonte) se os muçulmanos realmente merecem tal tratamento VIP, ao distribuirem tapas e insultos livremente, mas quando questionados e "insultados" mostram-se como sendo as pessoas mais injustiçadas e piores vítimas desse tipo de "preconceito".
Hoje está em voga o "POLITICAMENTE CORRETO", que no fundo, bem no fundinho, é a mesma coisa que o pós-modernismo (tudo é relativo, nenhuma crença, atitude, maneira de viver, ou ação pode ser questionada ou depreciada, etc.). Os países árabes/muçulmanos maestralmente transformaram isso numa ótima ferramenta e o "politicamente correto" virou uma avenida de mão única. Quando se sentem ofendidos, o mundo deve pedir desculpas, mas quando ofendendo, apelam ao zêlo religioso como desculpa (engraçado como religião e estado se misturam tão intrinsicamente e o mundo aceita sem maiores problemas e questionamentos, mas em solo nacional brigam ferrenhamente por essa separação). O medo pós 11 de Setembro, de quebrar a regra do "politicamente correto" e correlacionar a ídeia de terroristas = muçulmanos (sim, concordo que é uma equação injusta) sofreu uma mutação grotesca e o Islamismo e a fé muçulmana receberam um status elevadíssimo e quase que intocável pelo resto do mundo.
Enfim, o que realmente gostaria de apontar é o aspecto "espiritual" da situação. E para isso creio que o pastor americano John Piper acertou na mosca! Em seu devocional quase que diário, John Piper contrasta as ações dos muçulmanos e dos cristãos. Vou postar aqui o artigo de Piper (originalmente em inglês) que traduzi:
Se Cristo não tivesse sido insultado, não haveria salvação. Esse foi seu propósito salvífico: ser insultado e morrer para resgatar pecadores da ira de Deus. Já nos Salmos o caminho de zombaria e deboche era prometido: Todos os que me vêem zombam de mim, arreganham os beiços e meneiam a cabeça' (Salmo 22:7). "Era desprezado, e rejeitado dos homens..., como um de quem os homens escondiam o rosto, era desprezado, e não fizemos dele caso algum" (Isaias 53:3).
Quando realmente ocorreu, foi pior do que o esperado."E, despindo-o, vestiram-lhe um manto escarlate; e tecendo uma coroa de espinhos, puseram-lha na cabeça, e na mão direita uma cana, e ajoelhando-se diante dele, o escarneciam, dizendo: Salve, rei dos judeus! E, cuspindo nele, tiraram-lhe a cana, e davam-lhe com ela na cabeça." (Mateus 27:28-30). Sua resposta a tudo isso foi submeter-se pacientemente. Esse é o objetivo da vinda de Cristo. " Ele foi oprimido e afligido, mas não abriu a boca; como um cordeiro que é levado ao matadouro, e como a ovelha que é muda perante os seus tosquiadores, assim ele não abriu a boca." (Isaias 53:7).
Isso não pode ser dito sobre Muhammad. E os muçulmanos não acreditam ser verdade sobre Cristo. A maioria dos muçulmanos foram ensinados que Jesus não foi crucificado. Um muçulmano Sunita escreve, "Muçulmanos acreditam que Allah salvou o Messias da ignomínia da crucificação." (Badru D. Kateregga e David W. Shenk, Islam and Christianity: A Muslim and a Christian in Dialogue (Nairobi: Usima Press, 1980), p. 141.). Outro acrescenta, "Nós honramos [Jesus] mais do que vocês [Cristãos]... Nos recusamos a acreditar que Deus permitiria que ele morresse na cruz." (Citado de The Muslim World in J. Dudley Woodberry, editor, Muslims and Christians on the Emmaus Road (Monrovia, CA: MARC, 1989), p. 164.) Um impulso essencial do muçulmano é evitar a '"ignomínia'"da cruz.
Essa é a mais básica diferença entre Cristo e Muhammad e entre um muçulmano e um seguidor de Cristo. Para Cristo, aguentar a zombaria da cruz era a essência de sua missão. E para um verdadeiro seguidor de Cristo, aguentar sofrimento pacientemente para a glória de Cristo é a essência da obediência. "Bem-aventurados sois vós, quando vos injuriarem e perseguiram e, mentindo, disserem todo mal contra vós por minha causa." (Mateus 5:11). Durante sua vida Jesus foir chamado de bastardo (João 8:41), bebado (Mateus 11:19), blasfemador (Mateus 26:65), um diabo (Mateus 10:25); e prometeu o mesmo para os seus seguidores: "Se chamaram Belzebu ao dono da casa, quanto mais aos seus domésticos?" (Mateus 10:25).
Qual deveria ser a resposta de seus seguidores? De um lado, estamos chateados e bravos. Do outro, podemos nos identificar com Cristo, abraçar seu sofrimento, nos regozijar nas aflições e dizer como o apóstolo Paulo que a vingança pertence ao Senhor, amemos nossos inimigos e os conquistemos com o evangelho. Se Cristo cumpriu sua função sendo insultado, devemos fazer a nossa parte da mesma maneira.
Quando Muhammad foi retratado em doze desenhos no jornal Dinamarquês Jyllans-Posten, a revolta no mundo islâmico foi intensa e as vezes violenta. Bandeiras foram queimadas, embaixadas decimadas e pelo menos uma igreja Evangélica foi apedrejada. Os desenhistas se esconderam pois temiam por sua vida, como Salman Rushdie antes deles. O que isso significa?
Significa que uma religião sem Salvador insultado não aguentará os insultos para conquistar aqueles que a zombam. Significa que uma religião é destinada a cumprir a impossível tarefa de manter a honra de alguem que não morreu e ressuscitou para tornar isso possível. Significa que Jesus Cristo é a única esperança para obtenção de paz com Deus e paz com os homens. E significa que seus seguidores devem estar dispostos a compartilhar nos seus sofrimentos, se tornando como ele em sua morte (Filipenses 3:10).
E você, como tem reagido a insultos e zombaria dirigido a sua fé?
10 Comments:
Obrigado pelo comentário social fundando numa visão bíblica. Concordo com você! Essa situação mostra ao mundo como o deus do Islamismo não é o mesmo Deus do Cristianismo. A violência e o caos demonstram como uma pessoa religiosa não é necessariamente uma pessoa sanctificada. Já que hoje em dia muitos desejam um sincretismo entre religiões, acho importante salientar tais diferenças.
Te amo irmão! Lindo blog :)
Estimado irmão Daniel,
Palavras sábias! Te amo,
Gostei da postagem, da iniciativa e da lucidez retratada no tratamento do assunto. Parabéns! Continue nessa trilha. Vou postar como anônimo, para não dar bandeira de que só tem portelas comentando o novo blog... Duhhh...
Solanônimus
Gostei, Daniel! "Filho de peixe peixinho é". Aliás, o "cardume" todo é bom. E o "peixinho" também não é tão pequeno assim... Parabéns pelo blog.
João Alves
Daniel,
Bela estreia! Um post digno de ser lido e divulgado no meio dessa panacéia maluca de idéias que a gente ouve por ai.
Congratulations.
Mauro
PS. E eu nem sabia que o Augustus tinha dado entrevista no Bom-Dia Brasil...
Daniel,
Para não dizer que só tem Portelas comentando seu blog, aqui vai um comentário de um dos pastores dos Portelas...
Gostei. Já coloquei seu feeder no meu RSS.
Te cuida, Solano! O menino leva jeito!
Um abraço
Mauro,
É que você é desinformado e só assiste agora o programa do Leão.
Um abraço.
Anônimo
Parabéns, Daniel! Você inaugurou muito bem seu blog ao conjugar observações pertinentes de sua autoria com informações e dados preciosos (eu confesso que procurei bastante e não consegui achar as charges dinamarquesas na net!). Gostei muito também de ver a participação do Augustus na tv, com comentários impecáveis! (Eita, que eu já tô parecendo da família também, de tanto elogio!) :-)) Obrigada por ter linkado meu blog no seu e pode ter a certeza de que farei o mesmo.
Abração da companheira (ih! palavra perigosa) de luta contra essa festa macabra da modernidade, que é a associação entre relativismo, imanentismo e esquerdismo! Tem sido maravilhoso perceber que estou cada vez menos sozinha.
Observação: recomendei no meu blog esse seu post, junto com um artigo excelente do Victor Grimbaum sobre o levante islâmico contra as charges - que, segundo ele, nada tem de espontâneo.
Abraços!
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